ESPORTISTAS ESTÃO DANDO UM TEMPO NA CARREIRA PARA CUIDAR DA SAÚDE MENTAL

DANIEL CAMPOS DA SILVA – MESTRE EM
PSICOLOGIA, ESPECIALISTA EM SAÚDE MENTAL E PERFORMANCE PSICOLÓGICA – COMENTA
SOBRE O TEMA
Um atleta de alto rendimento, muitas
vezes, vive uma rotina pesada. São treinamentos, jogos ou competições,
concentrações, viagens, pressão e a incansável busca pelos resultados ou
marcas, que podem render conquistas, premiações, recordes e reconhecimento, ou
não! O profissional do esporte está sujeito também, como qualquer ser humano, a
tristezas, desencantos e frustrações.
Tudo isso pode conduzir o esportista
a um estado mental cansativo, resultando em stress com picos de ansiedade
excessiva. E, os exemplos são muitos: a ginasta Simome Biles, o jogador de
basquete Ricky Rubio, o surfista Rafael Medina e mais recentemente o ex-técnico
da Seleção Brasileira de futebol, Tite. Todos resolveram dar um tempo na
carreira para cuidar da saúde mental.
De acordo com Daniel Campos Da Silva,
psicólogo com mais de 12 anos de experiência em clínica e ex-atleta
profissional de basquete, uma pausa programada na carreira, assistida por um
profissional habilitado, pode ser salutar. “O afastamento total pode, sim, ser
uma estratégia saudável especialmente quando o ambiente esportivo se torna um
gatilho constante de estresse, ansiedade ou sofrimento. Isso não significa
necessariamente uma relação tóxica irreversível com o esporte, mas sim uma
necessidade legítima de criar espaço interno para respirar, refletir e se
reconectar consigo mesmo”, destacou.
Para o Mestre em Psicologia, que é
especializado em saúde mental, performance e tratamento de traumas, quando se
está imerso numa rotina competitiva intensa, o esportista muitas vezes perde a
clareza sobre os próprios limites e necessidades. “Desconectar-se, inclusive
como espectador, pode ser um ato de autocuidado, um ‘reset emocional’. E, com o
tempo, esse distanciamento pode abrir caminho para um novo tipo de relação com
o esporte mais consciente, livre e com mais recursos internos para lidar com os
altos e baixos da jornada esportiva”, complementou o Daniel, que atua como
especialista de bem-estar mental e desempenho para atletas olímpicos, equipes
nacionais e executivos de alto rendimento.
Para Da Silva, há pilares importantes
que costumam beneficiar muitos atletas nesse momento. “Estrutura, apoio e
desenvolvimento pessoal. Manter uma rotina com horários definidos, mesmo que
simples, como acordar, se alimentar e praticar atividades leves ajuda a organizar
o mundo interno. Também é essencial contar com suporte emocional de um
profissional capacitado, como um psicólogo do esporte ou terapeuta com
conhecimento em ambientes de alto rendimento. Além disso, é importante não se
isolar totalmente, ou seja, buscar o convívio com pessoas de confiança e laços
afetivos pode proporcionar acolhimento e estabilidade emocional. Momentos de
solitude também são válidos, desde que intercalados com relações de apoio”,
explicou.
“Esse período pode ser uma
oportunidade valiosa para o atleta se reencontrar com a própria identidade além
da performance. Muitos atletas passam anos se definindo apenas pelo rendimento.
Ao se afastar, abre-se espaço para um desenvolvimento psicológico mais profundo
e um redescobrimento de quem se é, independentemente dos resultados em campo ou
quadra”, acrescentou Daniel.
O ex-atleta relata ainda que o
retorno deva ser sentido e não forçado. “Embora definir prazos possa ajudar a
manter uma sensação de direção, a saúde mental não obedece a cronogramas
rígidos. O retorno mais saudável acontece quando há uma reconexão com a motivação
genuína, aquela que nasce do desejo interno e não da pressão externa”, comentou
DaSilva.
“Observar sinais emocionais, escutar
o corpo e contar com o apoio de um profissional especializado são etapas
essenciais nesse processo. Um ponto importante é reconhecer que, em alguns
casos, há pressões financeiras que influenciam diretamente a decisão de
retorno. Quando isso ocorre, é fundamental garantir que essa volta seja feita
com suporte psicológico próximo, para manter o equilíbrio emocional e reduzir o
risco de impacto emocional negativo”, finalizou Daniel Campos DaSilva.
Foto: Divulgação
Fonte: Frederico Batalha